DOENÇA DE CHAGAS EM RONDÔNIA, AMAZÔNIA: POTENCIAL PARA TRANSMISSÃO - Red Científica Iberoamericana (RedCIbe)

Red Científica Iberoamericana

DOENÇA DE CHAGAS EM RONDÔNIA, AMAZÔNIA: POTENCIAL PARA TRANSMISSÃO

Elaine Oliveira Costa de Carvalho1 y Luís Marcelo Aranha de Camargo2
1Departamento de Biología, Fundação Universidade Federal de Rondonia, Amazonia, Brasil
2, Universidade de São Paulo, San Pablo, Brasil

Amazonia, Brasil (SIIC)

Las modificaciones ambientales desencadenadas por la desforestación pueden generar cambios en los hábitos de los vectores, con incremento del contacto próximo con los seres humanos y mayor probabilidad de transmisión de la enfermedad de Chagas.

INFORME

A doença de Chagas é endêmica no continente Americano, com maior prevalência na América do Sul. Tradicionalmente, a doença de Chagas acomete pessoas de áreas rurais, que habitam ou habitaram casas de baixa qualidade, onde facilmente se coloniza e aloja o inseto vetor. A infecção humana pode ser muito grave, com mortalidade significativa em crianças na sua fase aguda e severo acometimento cardíaco e/ou digestivo em adultos crônicos.1
Os triatomíneos são insetos hematófagos que transmitem o T. cruzi no momento do seu repasto sanguíneo, ao depositar fezes e urina com o parasito em mucosas, em soluções de continuidade da pele e em alimentos. A maioria desses insetos são silvestres e associados com uma enorme variedade de habitats e hospedeiros vertebrados, podendo alguns adaptarem-se à habitats domiciliares e peridomiciliares. 2,3
O estudo foi realizado no município de Monte Negro (S 10º 15’35” e W 63º 18’06”), situado no Estado de Rondônia, com uma população estimada de 14.010 habitantes, ocupando uma área de 1.413,4 km2 e distando 250 km da capital Porto Velho.4
No presente estudo, foram amostradas de forma aleatória 100 propriedades rurais de 1.093 propriedades existentes, distribuídas por todo o município. Em cada propriedade foram realizadas duas visitas nas quais foram feitas buscas ativas de “barbeiros” no domicílio e peridomicílio, a dissecação de dois espécimes de babaçus (Orbginya speciosa) por visita e coleta de amostras de sangue dos moradores. As duas visitas por propriedade foram realizadas uma no período chuvoso e outra no período seco, visando verificar a influência da pluviosidade na diversidade de espécies de triatomíneos.

Com a autorização do proprietário, foram realizadas vistorias nas casas e peridomicílio por busca manual, sem uso de desalojante químico, para captura do “barbeiro”. Foram distribuídos aos moradores mostruários do triatomíneo e material de coleta (luvas, pinças e frascos coletores) para que o proprietário, caso encontrassem um espécime suspeito na ausência do grupo de pesquisadores, pudesse capturar e guardar o inseto para futura identificação.

Os insetos capturados foram acondicionados em frascos coletores devidamente rotulados e levados ao laboratório onde foram triados e divididos randomicamente em duas parcelas, uma reservada para análise de infecção por tripanosomatídeos e outra enviada para o Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara para a identificação morfológica das espécies através da chave elaborada por Lent&Wygodzinsky, 1979.5 Os estádios ninfais foram identificados de acordo com o trabalho de Correa et al, 1952 e de Rosa et al, 2005.6,7
Após assinarem o termo de consentimento esclarecido, as pessoas residentes nas propriedades visitadas foram submetidas a exames médicos e colheita de sangue, onde o profissional médico preencheu ficha clínico-epidemiológica do paciente.

Foi coletada de cada pessoa amostra sanguínea de 10 mL, a qual foi centrifugada a 2.500 RPM por 8 minutos. O soro foi separado em 3 alíquotas de 1mL cada e congelado à -20°C. Uma alíquota de cada pessoa foi remetida para o laboratório da Universidade Federal de Goiás para ser realizada pesquisa de anticorpos da classe IgG pelas técnicas ELISA e Imunofluorescência. Com Kit Chagatest ELISA marca Wiener e Kit DiaMed IT LEISH marca DiaMed, e para imunofluorescência foi usado globulina anti-IgG Humana marcada com fluoresceína (conjugado) marca Biomerieux, azul de Evans marca Bioshop e lâminas cepa T.cruzi – cepa Y – in house.

As informações obtidas foram inseridas em banco de dados do programa Microsoft Access 2.0. A análise estatística dos dados epidemiológicos foi feita através dos programas Epilnfo 6.04b e Excel 2007. Foram realizados os testes de Kolmogorov-Smirnov com correção de Lilliefors, Qui-quadrado, Exato de Fisher e teste U de Wilcoxon-Mann-Whitney, em todos foi considerado um nível de significância de 5% (a= 0,05).

As propriedades visitadas apresentaram tempo de colonização com média de 16,3 anos, variando de 2 meses a 38 anos. A maioria das moradias possui um padrão uniforme, as paredes variando de madeira a alvenaria e cobertura de telhas de barro ou de amianto. A maioria das moradias possui um padrão uniforme, as paredes variando de madeira a alvenaria e cobertura de telhas de barro ou de amianto. As benfeitorias peridomiciliares (curral, tulha, galinheiro e chiqueiro) normalmente são em madeira com cobertura de amianto ou telhas de barro (95%), com pouquíssimas exceções, onde foi verificado cobertura de madeira ou folhas de babaçus (5%).

A população estudada apresentou-se em sua maioria de imigrantes oriundos de outros estados (57%).

Na dissecação de 393 babaçus foi observado e registrado uma grande diversidade de espécies animais, classificadas em 2 filos (Arthropoda e Chordata), 8 classes (Insecta, Arachnida, Chilopoda, Diplopoda, Amphibia, Repitilia, Aves e Mammalia) e 23 ordens, entre as quais estão presentes, morcegos, roedores e marsupiais.

Foram coletados 853 triatomíneos, sendo 5 no intradomicílio e 848 nos babaçus. Não foram encontradas colônias dos “barbeiros” dentro das residências e no peri-domicílio, indicando que não há domiciliação do mesmo na região estudada.

Foram dissecados 393 babaçus, cujas distâncias das residências eram em média de 234,7 m, sendo o de menor distância à 76,6 m e o de maior distância à 392,8 m.

Através do teste de Kolmogorov-Smirnov com correção de Lilliefors foi verificado que a distribuição da variável quantidade de triatomíneos para as amostras do período seco e chuvoso não possuem distribuição normal, p<0,01. Para comparar as duas populações foi utilizado o teste U de Wilcoxon-Mann-Whitney. Verificou-se que não há diferença estatisticamente significativa em relação à abundância de vetores entre os períodos chuvoso e seco, U = 4799,5 e p = 0,851.

Dos 853 barbeiros coletados, foram selecionados para as análises 652 espécimes, sendo os demais descartados. Os triatomíneos analisados apresentaram predominância de espécimes (63,2%) em estádios ninfais, 36,8% de insetos adultos, sendo 56,6% machos. A identificação dos triatomíneos obteve resultado uniforme, onde todos os espécimes foram identificados como sendo da Rhodnius robustus. Foi realizada análise microscópica em 322 triatomíneos, onde foi verificada a presença de tripanosomatídeos em 50% dos mesmos.

A sorologia das 344 amostras humanas coletadas, realizada na Universidade Federal de Goiás, exibiu 1,2% de positividade para T. cruzi, 6,1% de resultados inconclusivos e 92,7% dos soros foram negativos. Todas as pessoas que apresentaram sorologia positiva são migrantes do Paraná, Goiás e Minas Gerais e têm idade superior a 24 anos.

Monte Negro, Rondônia, possui baixa prevalência de infecção por T cruzi em humanos, em torno de 1,2%. Não ocorre até o momento, transmissão vetorial ou por via oral, e os poucos casos identificados são alóctones, oriundos de regiões endêmicas brasileiras. Em sua totalidade, os triatomíneos coletados no intradomicílio e nos babaçus são do gênero Rhodnius.

Há um elevado índice de triatomíneos infectados por tripanosomatídeos na área estudada, podendo ser por T. cruzi e/ou outros tripanosomatídeos.

Apesar da baixa endemicidade apresentada na região, a abundância de vetores silvestres e a crescente antropização, sugere grande possibilidade de transmissão vetorial e oral.

Faz-se necessário a implantação de um programa de vigilância epidemiológica juntamente com o de controle da malária já desenvolvido pela Ministério da Saúde, fazendo exame gota espessa, entrega de mostruários e campanhas educativas, visando à prevenção da transmissão da doença de Chagas no estado.





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