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RISCOS PARA A SAÚDE DE COMPLEXOS MINEIROS ABANDONADOS. CASO DA MINA DE JALES, PORTUGAL
(especial para SIIC © Derechos reservados)
Autor:
Patrícia Coelho
Columnista Experto de SIIC

Institución:
Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Centro de Saúde Ambiental e Ocupacional

Artículos publicados por Patrícia Coelho 
Coautor Patrícia Coelho* 
Phd Student,, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Centro de Saúde Ambiental e Ocupacional, Porto, Portugal*


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Aprobación: 24 de septiembre, 2007
Conclusión breve
Com este trabalho foi possível verificar uma maior ocorrência de sintomas respiratórios e de irritação dos olhos e níveis mais elevados de exposição ao chumbo e ao cádmio no grupo exposto. Esta comunidade também revelou maior preocupação com o seu estado de saúde que considera estar a ser afectada com a situação ambiental existente no local. Estes dados suportam a necessidade de uma urgente intervenção no local, no sentido de minimizar os riscos que a situação de abandono da mina configura.

Resumen



Clasificación en siicsalud
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Especialidades
Principal: EpidemiologíaToxicología
Relacionadas: AlergiaAtención PrimariaDiagnóstico por LaboratorioMedicina FamiliarMedicina InternaNeumonologíaSalud AmbientalSalud Pública

Enviar correspondencia a:
P Coelho, Centre of Environmental and Occupational Health National Institute of Health, 4050-453, Porto, Portugal



RISCOS PARA A SAÚDE DE COMPLEXOS MINEIROS ABANDONADOS. CASO DA MINA DE JALES, PORTUGAL

(especial para SIIC © Derechos reservados)
Artículo completo
A saúde, estado de equilíbrio físico, psíquico e social do homem, é um elemento fundamental para a qualidade de vida e, portanto, para o bem-estar das sociedades.

Vários aspectos do bem-estar individual e colectivo são influenciados pelo ambiente, sendo hoje reconhecido que as situações de doença podem ser iniciadas, sustentadas e/ou agravadas por factores ambientais. O estudo das interacções do indivíduo, isolado ou em grupo, com o meio envolvente, constitui portanto uma importante vertente da Saúde Pública, designada por Saúde Ambiental.

No seu sentido mais lato, a saúde ambiental pode ser definida como a área da saúde pública, que se ocupa do reconhecimento, da avaliação e do controlo dos efeitos do ambiente no indivíduo.

Através dos tempos, a evolução das sociedades provocou a contaminação do meio envolvente, criando frequentemente situações de risco grave para o homem. Nos nossos dias são reconhecidos os efeitos negativos, que actividade humana pode ter nos diferentes ecosistemas, com reflexo na própria vida e as sociedades encaram modelos de evolução menos gravosos para o meio ambiente. Esta sensibilização para as questões ambientais, como forma de preservar a própria entidade humana, está contemplada no designado desenvolvimento sustentável, encarado actualmente pelas sociedades.

Um exemplo de uma actividade humana exercida, desde a Antiguidade, sem respeito pelo meio ambiente é a actividade mineira. Este facto é bem evidente em Campo de Jales, onde desde a civilização romana foram explorados os filões de ouro existentes - Mina de Jales.

A exploração de ouro e chumbo em Jales teve início com os romanos, no século I d.C. Com o fim do Império Romano, a actividade extractiva declinou, sem contudo ser totalmente abandonada. Com o advento da era industrial foram introduzidas metodologias mecanizadas. No ano de 1930, a exploração da Mina de Jales retomou em pleno a sua actividade, que se manteve até ao 1990, ano em que a mina foi encerrada, por motivos económicos.

A exploração mineira, a exemplo de outras actividades e em sintonia com a insensibilidade ambiental da época, foi exercida sem respeito pelo meio ambiente. Este facto originou na zona envolvente da mina uma contaminação dos diferentes ecossistemas.

O Instituto Geológico e Mineiro (IGM), ao abrigo de um programa para recuperação das minas abandonadas, realizou um estudo de impacte ambiental na área da mina de Jales. Os resultados do estudo mostraram uma significativa contaminação dos solos e das águas subterrâneas e superficiais; como principais contaminantes destacam-se os metais pesados: chumbo, cádmio, arsénio, prata e zinco. O programa desenvolvido não contemplou estudos de base populacional, pelo que não existem dados sobre o impacte, daquela situação ambiental, no estado de saúde da população local.

Este estudo teve por alvo a população residente na área envolvente da Mina de Jales, e como objectivo, conhecer os efeitos na saúde da situação ambiental criada na povoação – Campo de Jales. Foi utilizada a informação recolhida por preenchimento de um inquérito de saúde (contendo dados demográficos (sexo, idade, estado civil), habilitações literárias e dados profissionais, estilo de vida (hábitos tabágicos, alcoólicos, vigilância de saúde), sintomatologia associada com o aparelho respiratório, aparelho digestivo, sistema nervoso, dados de morbilidade e de mortalidade de familiares) e do rastreio da exposição aos metais pesados, por doseamento dos indicadores biológicos, chumbo e cádmio no sangue através de espectrometria de absorção atómica em câmara de grafite. Os dados relativos aos elementos que residiam em Campo de Jales (n = 229) foram contrastados com a informação recolhida nos habitantes de Vilar de Maçada (n = 234). Esta povoação foi escolhida como controlo uma vez que é bastante semelhante à exposta: ambas estão situadas no planalto transmontano, têm uma reduzida actividade industrial implantada e número de habitantes similar, com os mesmos hábitos sócio-culturais e estilo de vida.

Os resultados obtidos no inquérito de saúde apontam para uma maior ocorrência de sintomatologia ligada ao aparelho respiratório, irritação das mucosas (olhos) e de alteração do olfacto nos residentes em Campo de Jales. Da informação inquirida sobre a causa de morte, de familiares próximos, nos últimos dois anos, ressalta o facto de, em Campo de Jales, a silicose ser apontada como causa de 3 mortes, enquanto que, em Vilar de Maçada, esta causa não é referida. De notar que em Campo de Jales, muitos habitantes foram antigos mineiros pelo que existe probabilidade de, face às condições de trabalho existentes no passado recente, contrair aquela doença profissional. No rastreio da exposição aos metais pesados, observaram-se diferenças significativas nos níveis de chumbo e de cádmio no sangue das duas populações. Os valores médios e respectivos intervalos de confiança a 95%, encontrados em Campo de Jales e Vilar de Maçada foram, respectivamente: chumbo - 9.5 mg/dl [8.7-10.3] e 7.7 mg/dl [7.2-8.3]; cádmio - 0.84 mg/l [0.72-0.95] e 0.65 mg/l [0.59-0.95].

O facto das escombreiras se encontrarem a céu aberto e serem constituídas por poeiras de granulometria muito fina facilita o empoeiramento do ar ambiente, constituindo um factor importante de poluição atmosférica, que é agravado nos dias de vento. A sintomatologia mais referida pelos residentes em Campo de Jales relaciona-se com processos de irritação e/ou inflamação das mucosas nasais e dos olhos. Esta situação, segundo alguns autores, nomeadamente Rylander et al., pode estar associada a uma poluição atmosférica e a condições meteorológicas favoráveis à sua disseminação. De salientar que o sintoma “irritação dos olhos” é referido mais vezes pelos habitantes de Campo de Jales; por outro lado, na sua maioria, os inquiridos associaram o aparecimento deste sintoma a dias de vento mais forte, e consequentemente existirem mais poeiras dispersas no ar. No contacto com a população foi também referido que é frequente o pó nas suas habitações, principalmente no tempo seco e ventoso.

Os resultados do rastreio da exposição aos metais pesados não indiciam situações de grave risco para a saúde. Os níveis médios de chumbo e de cádmio no sangue obtidos na população de Campo de Jales, embora significativamente superiores aos correspondentes do grupo controlo (Vilar de Maçada), não configuram situações graves de intoxicação.

Relativamente à exposição ao chumbo, a concentração média de chumbo no sangue obtida para a população de Campo de Jales foi 9.52 mg/dl.

Analisando os valores individuais da concentração de chumbo no sangue foram encontrados dez indivíduos (10.1%) com valores superiores a 15 mg/dl. Conforme sugerido pela Agency for Toxic Substances and Disease Control (ATSDR), concentrações de chumbo no sangue superiores aquele valor, podem desencadear efeitos, nomeadamente incremento da protoporfirina eritrocitária, alteração do metabolismo da vitamina D e elevação da tensão arterial.

Face aos resultados obtidos, verifica-se que a exposição humana ao chumbo, embora presente em Campo de Jales, não atinge valores tão elevados quanto o esperado, face à grave contaminação ambiental identificada. Esta situação poderá ser explicada pelo facto do chumbo presente nos solos de zonas mineiras se encontrar, predominantemente, na forma de sulfureto de chumbo; esta composto é insolúvel pelo que a sua absorção através do pulmão é reduzida, quando comparada com outros sais.

As características toxicológicas do chumbo, em especial as propriedades neurotóxicas, tornam este metal particularmente nocivo para os organismos em desenvolvimento - feto e crianças na primeira infância. Vários estudos têm sido desenvolvidos sobre os efeitos do chumbo no desenvolvimento intelectual e neuromotor da criança; os resultados desses estudos têm demonstrado uma associação entre o nível de exposição ao chumbo e atrasos na aprendizagem da linguagem, menor coordenação motora e diminuição do QI. A constatação da influência do chumbo no desenvolvimento global da criança levou a que os Centers for Disease Control and Prevention (CDC, Atlanta) fixassem para o nível de chumbo no sangue, deste grupo etário, níveis cada vez mais baixos. Em 1991 foi fixado o valor de < 10 mg/dl, em 1991.

No que se refere ao cádmio, não são conhecidos muitos estudos sobre a exposição humana ambiental este metal. A pesquisa bibliográfica realizada, não mostrou a existência, em Portugal, de qualquer dado referente à problemática da exposição humana ao cádmio. Os estudos publicados visam a exposição profissional e os efeitos na saúde. No Japão são referidos alguns casos de populações intoxicadas por cádmio, através de alimentação à base de peixe proveniente de lagos contaminados. Esta situação dificulta a análise aos valores encontrados para a população residente em Campo de Jales.

Os resultados obtidos no estudo coordenado pela UNEP /OMS, em 1980, realizado em populações de vários países, apontam para valores médios do teor de cádmio no sangue, na ordem dos 1 mg/l. Comparando estes resultados, com os obtidos em Campo de Jales, onde foi encontrado o valor médio de cádmio no sangue de 0.79 mg/l, verifica-se que, tal como para o chumbo, não se configura uma situação de grave risco de intoxicação.

O facto do rastreio da exposição humana aos metais não apresentar uma situação tão gravosa quanto os resultados do estudo impacte ambiental faria supor, pode ser explicado pela mediatização que o problema das minas abandonadas e suas consequências na saúde das populações tem sido alvo. A transmissão da informação, e por outro lado, um maior cuidado dos serviços locais para tomar medidas de salvaguarda da saúde pública, nomeadamente a vigilância da qualidade das águas de consumo, pode ter contribuído para que a exposição aos metais tenha sido minorada.

Apesar de não se terem encontrado casos graves de intoxicação por chumbo e/ou cádmio, análise global dos resultados deste estudo aponta para a existência de situações de alteração do estado de saúde que se relacionam com a existência das escombreiras, a céu aberto e em abandono, e níveis mais elevados de exposição aos metais pesados, pelo que devem ser implementadas medidas correctoras.

Estas medidas devem incluir intervenções de prevenção primária, com o objectivo de reparar a situação ambiental criada, e secundária, no sentido de sensibilizar a comunidade para evitar a sua exposição.
Bibliografía del artículo
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Friberg L, Vahter M. Assessmentof exposure to lead and cadmium through biological monitoring: results of a UNEP/WHO global study. Environ Res 30:95-128, 1983.

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Oliveira J, Avila P. Avaliação do impacto químico ambiental provocado por uma exploração mineira. O caso de estudo na Mina de Jales. 37:25-50, 1995.

Rylander R, Megevand I. Introdução à medicina do ambiente. Lisboa, Instituto Piaget, 1993.

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