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EXPOSIÇÃO AO MERCURIO EM CRIANÇAS SOB ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO
(especial para SIIC © Derechos reservados)
Autor:
Rejane Corrêa Marques
Columnista Experto de SIIC

Institución:
Fundação Universidade Federal de Rondônia

Artículos publicados por Rejane Corrêa Marques 
Coautor Rejane Corrêa Marques* 
Professor, Fundação Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, Brasil*


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Aprobación: 5 de junio, 2007
Conclusión breve
Assumindo que o cabelo é o melhor integrador da exposição passada ao Hg, o principal achado deste estudo é que o marcador de consumo de peixe (Hg no cabelo materno) foi significantemente correlacionado com os níveis de Hg no cabelo fetal. Esta significante correlação permaneceu até os seis meses de lactação.

Resumen



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Especialidades
Principal: EpidemiologíaNutrición
Relacionadas: Atención PrimariaEnfermeríaMedicina InternaObstetricia y GinecologíaPediatría

Enviar correspondencia a:
Rejane Corrêa Marques, Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho Laboratório de Radioisotopos Eduardo Penna Franca, 21941-900, Porto Velho, Brasil



EXPOSIÇÃO AO MERCURIO EM CRIANÇAS SOB ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO

(especial para SIIC © Derechos reservados)
Artículo completo
Uma legítima preocupação surgida das grandes quantidades de mercúrio (Hg) metálico (usado para extração de ouro) descartadas no ambiente amazônico encorajou estudos sobre Hg em peixes, sumarizados por Dorea. É sabido que os solos da Amazônia são ricos em Hg e que constituem uma fonte natural de metilação.

O peixe é um item importante na dieta das populações Amazônicas e sua melhor fonte de nutrientes essenciais, pois é um complemento fundamental para as populações tradicionais locais sob dieta alimentar rigorosamente pobre em proteínas (70% a 80% da energia alimentar vêm da mandioca); seu conteúdo protéico é bem digerido e tem alto valor biológico. Além disso, seus nutrientes podem aumentar a absorção de Zn e Fe. Os peixes da Amazônia contém ácidos graxos poliinsaturados da série omega 3, essencial para o desenvolvimento neuromotor. O peixe é um bioconcentrador de Hg natural, mas, felizmente, peixes amazônicos são uma boa fonte de selênio (Se), conhecido por neutralizar os efeitos tóxicos do Hg.

Mulheres amazônicas que dependem fortemente do consumo de peixe tem apresentado níveis de Hg no cabelo que estão entre os mais altos do mundo. A formação e desenvolvimento do SNC durante a gravidez e lactação podem ser afetados por múltiplas causas, variando de nutrição materna a exposição a substâncias tóxicas. Nesta janela de tempo específica, o Hg pode afetar funções neurocomportamentais. Exposição moderada pode resultar em sintomas de atraso (não observados ao nascimento), tais como atraso no andar e falar, além de persistência de reflexos perinatais anormais.

Nossos objetivos foram: a) estudar a exposição ao Hg pelo consumo de peixes em mulheres amazônicas; b) associar exposição materna (Hg no cabelo) com Hg em outras amostras biológicas e fatores relevantes para o desenvolvimento neuromotor de crianças amamentadas e, c) avaliar a associação entre dimensões originadas do desenvolvimento infantil e fatores socioeconômicos e exposição materna.

A exposição a peixe contendo Hg durante a gravidez e lactação foi estudada em 100 mulheres e seus recém-nascidos na cidade de Porto Velho, Rondônia, Brasil. As concentrações de Hg nos tecidos maternos e infantil e o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças foram avaliados ao nascimento e aos seis meses de idade em crianças alimentadas exclusivamente com leite materno.

Os dados foram obtidos com a mãe ou responsável legal após prévia autorização por escrito. As crianças foram submetidas a exame clínico e físico –peso, estatura e perímetro cefálico– de rotina ao nascer que foram comparados aos dados tabulados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) utilizando-se o programa ANTRHO 2005. Aos seis meses de idade as crianças compareceram a um exame clínico e neurocomportamental programado. Na avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor foi considerado como padrão de normalidade a Escala Desenvolvimental de Gesell.

Os níveis de Hg total foram verificados em amostras de cabelo da mãe e filho, coletadas ao nascimento e aos seis meses. Os níveis de Hg também foram pesquisados em amostras de sangue materno, placenta e cordão umbilical, coletadas na época do parto. As amostras foram analisadas pelo método de espectrofotometria de absorção atômica pela técnica de vapor frio. Os compartimentos estudados, as técnicas e metodologias analíticas aplicadas no estudo, estavam de acordo com as do Laboratório de Biogeoquímica Ambiental da Universidade Federal de Rondônia.

A freqüência média do consumo de peixe foi baixa (< 2 refeições/semana; variação de 0 a > 7 refeições/semana) quando comparado aos padrões amazônicos. Mulheres que consumiam peixe < 2 refeições/semana apresentaram concentrações de Hg no cabelo mais baixas (5.51 µg.g-1 ± 5.37) que mulheres que consumiam peixe ≥ 2 refeições/semana (9.02 µg.g ± 10.96). A média de Hg total no cabelo materno (7.36 µg.g-1 ± 8.73) foi mais alta que nos recém-nascidos (2.44 µg.g-1 ± 3.04). Foram observadas correlações significantes entre concentrações de Hg no cabelo da mãe e da criança ao nascimento (r = 0.353; p < 0.01) e aos seis meses de idade (r = 0.219; p < 0.05). Hg na placenta também foi significantemente correlacionado com Hg no cabelo materno (r = 0.321; p < 0.01), no cabelo do recém-nascido (r = 0.219; p < 0.01), no sangue materno (r = 0.250; p < 0.05) e no cordão umbilical (r = 0.857; p < 0.01).

A maioria das crianças (74%) estava dentro dos parâmetros de normalidade segundo a Escala Desenvolvimental de Gesell. As crianças que apresentaram atraso no desenvolvimento (26%) nasceram de mães com uma variação de Hg no cabelo mais baixa que mães de crianças com desenvolvimento normal. Coincidentemente, mães de crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor também apresentaram uma variação mais baixa na renda e nível educacional. O consumo de peixe variou grandemente entre essas mulheres urbanas, mas não foi associado com distúrbios no desenvolvimento entre crianças alimentadas exclusivamente com leite materno.

Assumindo que o cabelo é o melhor integrador da exposição passada ao Hg, o principal achado deste estudo é que o marcador de consumo de peixe (Hg no cabelo materno) foi significantemente correlacionado com os níveis de Hg no cabelo fetal. Esta significante correlação permaneceu até os seis meses de lactação. O atraso no desenvolvimento neuropsicomotor não indicou uma relação dose-resposta: os mais altos valores de Hg no cabelo foram encontrados no grupo de crianças com escores normais. Esses achados sugerem a ocorrência de algumas condições protetoras que não estão presentes em famílias em situação de desvantagem social.

Essa amostra de mulheres de Porto Velho não é cultural e nem socioeconomicamente homogênea. Contudo, não houve insultos pré-natais severos que poderiam distorcer o padrão inicial de desenvolvimento e os atrasos desenvolvimentais observados estavam dentro das taxas da população brasileira. Mesmo em populações homogêneas há variações nos resultados neurocomportamentais. Dodge et al. discutiram as limitações de confiabilidade de uma única função como avaliadora de um insulto sobre o desenvolvimento normal. No nosso caso apenas seis crianças apresentaram atraso em todos os setores do desenvolvimento. Estudos associando Hg e desenvolvimento infantil algumas vezes não fazem referência ao aleitamento materno. Por causa do papel fundamental da amamentação sobre o desenvolvimento infantil é importante enfatizar tais estudos. Deste modo, quando o aleitamento materno é considerado em estudos de exposição materna ao Hg, indubitavelmente há benefícios para o desenvolvimento das crianças.

A exposição fetal ao Hg é derivada exclusivamente da contaminação materna. Entretanto, em países em desenvolvimento como o Brasil, muitas vacinas utilizam o timerosol como conservante. Timerosal contém 49.6% de etilmercúrio (EtHg). A exposição iatrogênica ao Hg através das vacinas durante o período de amamentação é freqüente, mas não tem sido levada em consideração em estudos sobre desenvolvimento infantil. No calendário de imunização brasileiro uma criança pode receber até 207.5 µg EtHg durante os primeiros seis meses de vida.

Este é primeiro estudo relatando consumo de peixe em mães urbanas da Amazônia. Nas populações amazônicas a concentração de Hg no cabelo é representativa do consumo de peixes em adultos e crianças. A população da Amazônia Brasileira que apresenta elevada exposição ao Hg é composta principalmente por indígenas e ribeirinhos. A importância do peixe para a subsistência das comunidades ribeirinhas é proporcional a sua distância dos centros urbanos. Em comunidades remotas do Rio Madeira essa dependência do pescado para a subsistência é bem caracterizada pelas concentrações médias de Hg no cabelo de > 16 µg.g-1. Nós recentemente mostramos que essas comunidades podem consumir peixe duas vezes ao dia. No nosso estudo, o consumo de peixe das mães de Porto Velho é significantemente diminuído provavelmente como resultado da urbanização e fluxo migratório de outras partes do país.

Este estudo mostra que o desenvolvimento neuromotor não está associado ao consumo de peixes e pode ser estar associado às iniqüidades e deprivação sociais. De fato, Cory-Slechta discutiram o baixo status socioeconômico como um fator de risco para resultados adversos sobre a saúde e disfunções comportamentais tanto em adultos quanto em crianças. Baixo status socioeconômico está associado com altos níveis de déficit de atenção, aprendizagem e linguagem em crianças. Aparentemente, atrasos desenvolvimentais em crianças sob aleitamento exclusivo são um componente de iniqüidade em saúde que acompanha desvantagens socioeconômicas.
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