TRABALHO E (TRABAJO Y) ESTILO DE VIDA EM PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO (EN) MÉDIO ARAGUAIA - Red Científica Iberoamericana (RedCIbe)

Red Científica Iberoamericana

TRABALHO E (TRABAJO Y) ESTILO DE VIDA EM PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO (EN) MÉDIO ARAGUAIA

Leonardo Oliveira de Aquino1,Graziele Souza Lira Ferrari2 y Carlos Kusano Bucalen Ferrari3
1Educador Físico, Professor de ensino fundamental e médio, Secretaria Estadual de Educação, Barra do Garças, Brasil
2Educador Físico, Acadêmica de Educação Física, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Pontal do Araguaia, Brasil
3Biomédico, Profesor Adjunto, Universidade Federal da Integração Latinoamericana (UNILA), Foz do Iguaçu, Brasil

Foz do Iguaçu, Brasil (SIIC)

Apesar de trabalhar muito e (trabajar mucho y) apresentar problemas afetivos, os professores de educação física suportam esforços (esfuerzos) físicos e consideram-se felizes.

Introdução

O controle de situações estressantes, a prática de hábitos alimentares adequados e de atividades físicas regulares integram o estilo de vida saudável que está associado a redução de risco de doenças crônicas não transmissíveis como o diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, obesidade, alguns tipos de neoplasias malignas e a síndrome metabólica.1-7 Não obstante, problemas de sono, comportamento sedentário (ou inatividade física), e ausência de tempo livre para lazer, aliados à baixa ingestão de frutas, vegetais, cereais e fibras, bem como à elevada ingestão de alimentos ricos em sal, calorias, gorduras, frituras e refrigerantes têm sido associados com o aumento do risco de doenças crônicas não transmissíveis em crianças e adultos.8-12
Estudo realizado com estudantes da área de ciências da saúde que, em teoria, deveriam preocupar-se mais com a própria saúde, mostrou que 51.3% eram sedentários, 5.1% tinham sobrepeso e havia uma elevada prevalência de ingestão insuficiente de legumes (40%), frutas (51.3%) e verduras (60%).13 Em relação à quantidade e frequência semanal recomendada, o estudo de Vieira et al.,14 apontou baixa ingestão de frutas (25%) e elevada ingestão de gorduras e doces (46.5%).

Um interessante estudo com professores de educação física no Estado de Santa Catarina revelou que os docentes tendem a apresentar um estilo de vida saudável embora uma considerável parte tenha problemas na alimentação saudável e controle do estresse.15
Assim sendo, o objetivo deste estudo foi avaliar o estilo de vida e trabalho de professores da região do Médio Araguaia (MT/GO).

 

Metodologia

A população foi composta por todos os professores de educação física das cidades do Médio Araguaia que são Aragarças (GO), Barra do Garças (MT) e Pontal do Araguaia (MT). Foram excluídos dois professores: um que lecionava educação física em uma escola pública, mas não apresentava formação profissional na área e outra que não entregou o questionário no prazo solicitado.

Assim, os demais 22 professores concordaram em participar da pesquisa e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo faz parte de projeto de pesquisa aprovado pelo comitê de ética do Hospital Universitário Júlio Müller da UFMT (Protocolo Nº 665/CEP-HUJM/09).

Para avaliar o estilo de vida e trabalho foi aplicado questionário adaptado contendo questões do SF-36 sobre qualidade emocional e capacidade de realizar esforços físicos, atividade sedentária, bem como questões de caracterização sócio-econômica e questionário de frequência alimentar.11,14,16
O estudo foi desenvolvido entre os meses de Julho a Outubro de 2012.

 

Resultados

A pesquisa contou com a colaboração de 22 professores, sendo 15 homens e 7 mulheres, de 24 à 54 anos de idade, com uma média de 38.41 e desvio padrão de 9.65.

Conforme observa-se na Figura 1, 28% dos professores trabalha em duas escolas e metade dos professores trabalha em três ou mais ocupações.

Ademais, a dor física não interferiu nas atividades diárias (96%) e 78% dormiam até 7 horas por noite. 87% fizeram suas atividades com tempo adequado, mesmo com problemas emocionais 74% fizeram as tarefas como gostariam e 91% as fez com o devido cuidado; nos últimos tempos não se sentem: nervosos (78%), deprimidos (92%), desanimados (87%) e 92% se sentem felices; 65% ganham de 3 a 6 salários mínimos e 50% tem mais de 2 empregos, 45% se divertem 3 vezes ou mais por semana, sendo que 96% não fumam.

Quanto aos problemas psico-afetivos, em 18% do tempo os professores sentiam-se nervosos, embora apenas 9% das vezes eles relataram algum desânimo. Ademais, em 92% do tempo os professores sentiam-se felizes (Figura 2).

Considerando seu estado físico, parte considerável dos professores relatou alguma (13%) ou muita dificuldade (41%) em correr, levantar peso e realizar tarefas árduas. Quanto a subir escadas, ajoelhar-se e curvar-se ou andar mais de 1 km, considerável parte relatou alguma dificuldade atingindo 27%, 23% e 9%, respectivamente (Figura 3).

Quanto aos hábitos alimentares observou-se excessiva ingestão de carne por metade da amostra. Houve adequada ingestão de cereais, pois 78% da amostra consumia até 4 porções diárias. Além disso, os professores consumiam apenas uma porção diária de frutas (64%), legumes (45%), vegetais (32%) e leite e derivados (68%), o que foi considerado inadequado quanto à ingestão de macro e micronutrientes (Figura 4).

Por outro lado, o consumo diário de pelo menos uma porção de frituras e chocolates foi de 86% e 82%, respectivamente.

Embora 60% dos professores não fazia uso de refrigerantes e bebidas alcoólicas, cerca de 31% deles relatou ingerir refrigerantes e bebidas alcoólicas até 4 vezes por semana (Figura 5).


Discussão

No presente estudo pode-se observar sobrecarga de trabalho e algum desgaste físico e emocional dos professores.

Um estudo interessante com professores de educação física e treinadores na Coréia observou um nível moderado de exaustão ou desgaste emocional. A análise de regressão revelou que esta exaustão emocional esteve associada a conflitos e sobrecarga de trabalho.17
Avaliando uma amostra representativa da população Sul do Brasil os autores reportaram que os maiores problemas dos professores de educação física foram desgaste emocional e alimentação inadequada.18 Estes resultados corroboram estudo anterior realizado em Santa Catarina.15
A sobrecarga de trabalho observada neste estudo corrobora estudos anteriores que revelaram insatisfação com a carga e as condições de trabalho em professores de educação física do Paraná e dos três estados da região Sul do país.18,19
Em outro estudo, na região Sul do país, embora os professores sintam-se satisfeitos com seu trabalho, cerca de um terço apresentou hábitos alimentares inadequados e em média 55% apresentavam situação de pluriemprego.20 Esta situação de pluriemprego e de hábitos alimentares negativos foi muito similar aos resultados encontrados no presente estudo.

Os professores do presente estudo relataram ter muitos empregos e tinham algumas vezes algum sentimento psico-afetivo de nervosismo/ansiedade e desânimo.

Excessivas jornadas de trabalho aumentam o risco de ansiedade, depressão, além de reduzir a capacidade cognitiva do ser humano o que explica, ao menos em parte, o maior risco de envolvimento em accidentes.21 Além disso, um estudo de revisão sistemática concluiu que longas jornadas de trabalho estiveram associadas ao maior risco de ansiedade, depressão, problemas de sono e doença arterial coronariana.22
No presente estudo, o consumo diário de frutas, legumes e vegetais foi baixo em parte dos professores o que está de acordo com os resultados de outros estudos. Um estudo com professores da educação básica, na cidade de São Paulo, revelou que apenas 28% dos professores tinham conhecimentos sobre alimentação saudável.23 Em outro estudo, com professores de Bagé (RS), 79.6% consumiam menos de três porções diárias de frutas e vegetais.24 Outro estudo, com professores universitários de educação física em Pelotas (RS), o consumo adequado de cereais, legumes e vegetais atingiu no máximo 12.5% da população estudada.25 No mesmo estudo, os autores reportaram que o consumo de leite e derivados foi extremamente baixo o que ocorreu também no presente trabalho.

Neste trabalho, o consumo diário de até 4 porções de cereais, legumes e vegetais foi muito maior comparado ao estudo de Santos e Marques24 e Hartwig et al.25 Todavia, o consumo de leite e derivados foi similarmente baixo em relação aos mesmos estudos.

Cerca de um terço dos professores ingeriam refrigerantes e bebidas alcoólicas até quatro dias por semana e 9% bebiam refrigerantes quase todos os dias.

O consumo de refrigerantes pode trazer riscos à saúde destes professores, uma vez que a ingestão excessiva, ou seja, diária, tem sido associada ao aumento do risco de sobrepeso, obesidade, diabetes mellitus tipo 2, síndrome metabólica, degeneração gordurosa do fígado e acidente cerebrovascular.26-28
Além dos refrigerantes, o consumo diário de pelo menos uma porção de chocolate e frituras foi elevado, o que também aumenta o risco de sobrepeso/obesidade, diabetes, doença arterial coronariana, esteatose hepática e câncer de próstata.29-32

Conclusão

Parte dos professores ingere excesso de refrigerantes, chocolates e frituras. Conclui-se que apesar de trabalhar muito e apresentar problemas afetivos, os professores de educação física suportam esforços físicos e consideram-se felizes.



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